Ficha de Leitura 4
O Papel Educativo dos Jardins Botânicos
Análise das Ações Educativas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Souza, M. P. C. (2009). O Papel Educativo dos Jardins Botânicos: Análise das Ações Educativas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro [Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo]. Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-20012012-100419/pt-br.php
PALAVRAS-CHAVE
Jardins Botânicos; Ciências Naturais; Educação
RESUMO
Desde há várias décadas atrás que tem havido uma crescente valorização na área das ciências e da tecnologia, mas falando agora da área científica nos anos 80 vários países em conjunto com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura ou simplesmente UNESCO assumiram um novo propósito para a educação na ciência que apareceu integrado no slogan "ciência para todos", este slogan fez com que se começasse a entender que a educação nas ciências era muito mais do que a educação formal, ela poderia ser inserida dentro do contexto da educação ao longo da vida o que levava a que ela pudesse ser feita em espaços como museus ou os jardins, que de um modo sintético são os jardins que possuem uma larga coleção de espécies desde as comuns como as suculentas, como as plantas raras que possam estar em perigo de extinção, estes jardins têm fins de conservação, pesquisa, cultura e de lazer.
Uma das coisas que se começa por dizer primeiro na tese é que não existe uma concordância sobre qual é o primeiro jardim botânico moderno, porém é possível afirmar que a origem destes jardins ligam-se com a medicina, e isto pode tanto ser visto no jardim de Tolomei, no Egito, que possui espécies usadas para fins terapêuticos, como no jardim dos astecas que para além de terem as plantas medicinais possuíam outras espécies como as plantas aromáticas.
De acordo com Pereira citado por Souza (2009) "Os jardins botânicos têm sua história ligada aos mosteiros (...) Mais tarde as universidades de medicina e farmácia incorporaram tais jardins em disciplinas regulares, e dos simples canteiros surgiram as coleções dos jardins botânicos" (p.21), para além desta vertente os jardins botânicos tal como acima mencionado são usados para a conservação e a pesquisa das espécies, com isto nas viagens marítimas dos séculos XV e XVI foram recolhidas inúmeras exemplares da fauna e da flora, no entanto para que estas espécies pudessem sobreviver em lugares que poderiam ser diferentes dos seus países de origem era necessário que existissem as condições necessárias, como por exemplo a climatização.
Contudo, qual é a relação entre estes jardins e o público que o visita? No ano de 1757 Lineu criou uma classificação binária para as plantas, que veio entusiasmar e realçar a integração do estudo da coleção e da organização destes ambientes, foi neste cenário que se começou a pensar na vertente educativa, para permitir que o público pudesse visitar as coleções botânicas, no entanto isto não foi bem visto por todos, por exemplo para Lamarck "o gabinete deveria restringir o horário de visitação do público garantindo aos naturalistas serenidade para estudar as coleções" (Souza, 2009, p.25).
Para Cazelli et al citado por Souza (2009) nesta altura a educação para o público não era um dos principais objetivos, o seu principal objetivo era "contribuir para o crescimento do conhecimento científico por meio da pesquisa" (p.25).
Antes de passarmos às ações educativas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, é necessário dizer que a criação deste jardim é uma consequência da transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, aquando das Invasões Francesas, nesta altura destacou-se a criação de uma fábrica de pólvora e de acordo com Barbosa citado por Souza (2009), junto a esta fábrica foi construído um jardim de aclimatação que pretendia criar as condições para que as espécies que vinham de outras regiões do mundo pudessem sobreviver, um exemplo são as especiarias que vinham das Índias Orientais.
Nos dias em que esta tese foi realizada, o jardim botânico do Rio de Janeiro recebia em média mais de 250 mil visitantes por ano, que iam lá por motivos de lazer ou pela educação, deste modo a dimensão educativa era importante para o jardim, com isto as suas atividades dividiam-se nos diversos setores.
Souza (2009) referiu que a esfera da educação formal do jardim associa-se com a Escola Nacional de Botânica Tropical e com a Diretoria de Pesquisa Científica dado que a primeira é uma escola que está encarregada dos programas de pós graduação de botânica e nela estão integradas áreas como por exemplo o inventário e caraterização da biodiversidade, já a segunda organização é responsável pelos programas de formação dos recursos humanos, para além de uma biblioteca que se especializa em botânica e em ciências ambientais.
Um dos programas desenvolvidos é o "Educação e Trabalho" que se trata da realização de cursos destinados aos jovens que estejam em situações de risco, segundo Souza (2009) "O programa tem como objetivo capacitar jovens de 16 a 21 anos, enfocando a importância da flora nativa na escolha e utilização de espécies vegetais para o tratamento paisagístico." (p.36).
Dentro da dimensão educativa também são realizadas exposições temáticas, tendo como exemplo a mostra "O Homem e as Plantas Medicinais - uma história em construção" que se focou nas propriedades medicinais das espécies, e também a mostra do "Jardim Sensorial" que visa à estimulação dos sentidos.
Para poderem chegar ao maior número de pessoas e atenderem às necessidades do público foi criado o programa de interpretação ambiental onde são desenvolvidas diversas atividades, como por exemplos trilhas cujos roteiros poderão ser feitos pelos visitantes, ou o projetos das placas interpretativas, que é a sinalização interpretativa das espécies existentes que "contêm informações mais aprofundadas sobre o acervo do Jardim Botânico, tanto em relação a aspectos botânicos, como culturais, econômicos, históricos, etc." (Souza, 2009, p.37).
Um setor que está associado ao jardim é o Núcleo de Educação Ambiental que para além de construir projetos no âmbito da educação ambiental dá prioridade ao trabalho com as escolas e os professores, com isto o objetivo principal deste setor é a mudança de atitudes e comportamentos relativamente às questões ambientais, este setor possui é constituído por diversas linhas de ação, algumas delas são a "Formação de Multiplicadores em Educação Ambiental", onde se integram projetos dedicados aos professores e licenciados e visam potencializar as visitas, outra é relativa à divulgação científica onde existem projetos como o laboratório didático que é um projeto que se destina a grupos escolares e tem o objetivo de desenvolver atividades que sejam lúdicas e criativas para estimular discussões acerca de temáticas ambientais, com a utilização dos recursos naturais, por fim uma outra linha é a "Gestão Ambiental" que possibilita o desenvolvimento dos projetos de uso racional dos recursos.
Alguns dos cursos que são concedidos ao público são organizados pela Organização Não Governamental Sociedade de Amigos do Jardim Botânico que "visa contribuir para a conservação, aprimoramento, difusão e ampliação do patrimônio histórico, natural, paisagístico, científico e cultural do Jardim Botânico" (Souza, 2009, p.40)
REFLEXÃO CRÍTICA
Uma vez que o meu grupo encontra-se a realizar o seu trabalho de campo no Jardim Botânico da Ajuda, escolhi fazer a minha ficha de leitura sobre um jardim botânico que se localiza no Brasil, e apesar da diferença de localização entre o jardim botânico do texto e o da Ajuda pude associar alguns pontos em comum.
Um destes pontos relaciona-se a ambos serem um dos primeiros jardins a aparecerem nos seus respetivos países, outro ponto relaciona-se à existência dos cursos que são organizados por uma associação que trabalha em conjunto com o jardim mas que não faz parte dele.
Por fim penso que a leitura desta tese foi importante pois ajudou a que pudesse compreender um pouco do funcionamento de outro jardim botânico num contexto internacional, e ver que apesar de existirem diferenças elas poderão não ser assim tão fortes.
